Aprendizagem e tecnologias: Tendências e desafios
As tecnologias digitais são projetadas como propiciadoras de aprendizagem e, neste sentido, são cada vez mais adotadas; no entanto, a sua incorporação nas práticas diárias e nos processos de ensino-aprendizagem não decorre tão rapidamente como se esperaria. Por sua vez, parece haver um movimento crescente no sentido de perspectivar o futuro para a aprendizagem investindo mais no uso das tecnologias do que no incentivo à mudança de práticas dos professores.
As tecnologias digitais são projetadas como propiciadoras de aprendizagem e, neste sentido, são cada vez mais adotadas; no entanto, a sua incorporação nas práticas diárias e nos processos de ensino-aprendizagem não decorre tão rapidamente como se esperaria.
Por sua vez, parece haver um movimento crescente no sentido de perspectivar o futuro para a aprendizagem investindo mais no uso das tecnologias do que no incentivo à mudança de práticas dos professores. Este artigo pretende contribuir para o debate em torno dos desafios suscitados com a naturalização das tecnologias digitais na vida das pessoas e sua relação com novos modos de aprender.
Analisa tendências em educação, baseadas em evidências empíricas, enfatizando o uso das tecnologias digitais e procura situá-las no campo das perspectivas dialógicas que assumem o conceito de diálogo como central na aprendizagem e na investigação sobre práticas e interações nos novos cenários de aprendizagem.
Enumera-se seis tendências para a educação, que têm numerosas implicações para o ensino-aprendizagem, apoiadas na análise dos diversos projetos desenvolvidos em rede por parceiros europeus. As expectativas em torno da relação aprendizagem-tecnologias-inovação evoluem rapidamente. É o caso da aprendizagem centrada no estudante e as aprendizagens hands-on que são hoje fortemente recomendadas em vários documentos oficiais, emanados de instituições educativas.
Também, a avaliação orientada por resultados tem vindo a ser enfatizada nas escolas, sendo que muitas instituições educativas integram learning analytics na sua gestão, procurando obter informação sobre como os estudantes estão a alcançar os conhecimentos.
A primeira tendência designada por “A ubiquidade dos média sociais”, centrada na conectividade, está relacionada com a influência dos média sociais no modo como as pessoas interagem, pela forma como as ideias são apresentadas e, ainda, pelo julgamento sobre a qualidade dos conteúdos e das diversas contribuições.
Os professores e os estudantes usam-nos para comunicarem e se manterem atualizados sobre os conteúdos curriculares. Os professores, também, estão a usá-los na construção de comunidades de prática, de aprendizagem e como plataforma para partilhar ideias sobre esses conteúdos que exploram nas aulas.
Um número crescente de professores usa cenários de aprendizagem híbridos, experimenta média sociais e outras formas de construir comunidades de aprendizagem.
Os média sociais constituem um meio de encorajar o feedback e propostas de trabalho, quando utilizados como veículo de diálogo entre os estudantes, pais, professores e as instituições, sendo propiciadores de aprendizagem social.
Por exemplo, Facebook, Twitter, Skype, YouTube, Blogs e outros forjam conexões entre estudantes e especialistas. Face a estes desenvolvimentos as escolas começam a definir políticas e orientações para que os estudantes possam aproveitar melhor e de forma mais segura essas plataformas e ferramentas para a aprendizagem. São exemplos disto, a integração do Facebook na elaboração do trabalho de casa, o uso do Instagram na criação de fotografias sobre experiências em laboratório ou do Twitter para comunicar de modo regular com os estudantes.
A segunda tendência “Repensar o papel dos professores”, relacionada com as práticas de ensino, evidencia como, cada vez mais, os professores adaptam uma variedade de ferramentas tecnológicas aos conteúdos, no apoio aos estudantes e na avaliação, usando-as no delineamento de estratégias digitais no seu trabalho com os estudantes e agindo como mentores.
Essas ferramentas são utilizadas para colaborar com outros professores, dentro e fora das suas escolas, na organização do seu trabalho, na apresentação de relatórios e no cumprimento de funções administrativas. No seu próprio desenvolvimento profissional utilizam média sociais, ferramentas e recursos online.
Por sua vez, os estudantes no seu dia-a-dia usam as ferramentas tecnológicas para socializar e aprender informalmente, o que suscita em muitos líderes escolares a convicção de que as escolas deviam proporcionar meios para que os estudantes continuem a envolver-se em atividades de aprendizagem, formal e não-formal, para além do habitual dia escolar. Neste sentido, os professores são compelidos a compreender como usar essas ferramentas e a integrá-las, privilegiando aprendizagem autêntica, focada em problemas complexos do mundo real e nas formas de os resolver, usando tarefas baseadas em problemas, estudos de caso e participação em comunidades virtuais de prática.
Acresce a tudo isto, a evidência de que os professores não são mais as principais fontes de informação e conhecimento para os estudantes, se se atender à cada vez maior acessiblidade à Internet. Estes fatos provocam mudanças profundas nos paradigmas tradicionais e, neste sentido, interessa proporcionar aos professores o máximo de oportunidades para o seu desenvolvimento profissional.
A terceira tendência, “Aumento do foco nos Recursos Educacionais Abertos” constitui já um assunto de política das escolas, sobretudo, em certas disciplinas, em que conteúdos curriculares de alta qualidade abundam na internet. Importa compreender o significado do termo “aberto”, conceito multifacetado e o desafio que coloca ao professor.
A ênfase no processo de aprendizagem está na gestão curricular de muitos programas, diminuindo o peso que outrora foi atribuído à transmissão de informação. Com efeito, a informação está em toda parte e o desafio é como saber pesquisá-la e utilizá-la de modo eficaz.
A quarta tendência associada a “Crescente uso de ambientes de aprendizagem híbridos”, tem a ver com a familiarização crescente dos professores e alunos com a Internet e, também, com a inclusão da aprendizagem online nas pedagogias tradicionais.
Os modelos de aprendizagem híbridos, quando implementados transformam o dia escolar dos estudantes desencadeando atividades de grupo, baseadas em projetos, quando, por exemplo, usam a Internet para aceder a textos, vídeos eoutros materiais de aprendizagem, aproveitando o melhor de ambos os ambientes.
Esses modelos que combinam o melhor da sala de aula com o melhor do que é possibilitado pela Web, proporcionam, por um lado, mais tempo na escola/sala de aula para a colaboração entre os pares e interação professor-aluno e, por outro, valorizam a aprendizagem independente em ambientes online.
A quinta tendência remete para a “Evolução da aprendizagem online”, destacando-se a visibilidade que as experiências online estão a assumir, desencadeando a emergência de novos modelos pedagógicos e novas ferramentas digitais.
Muitos consideram que a aprendizagem online é um veículo para a equidade social, possibilitando o acesso a estudantes desfavorecidos, os que vivem em zonas rurais e, também, aos estudantes categorizados como tendo necessidades educativas especiais.
A sexta tendência, centrada na “Ascenção da avaliação orientada por dados”, revela o interesse crescente pelo uso de novas fontes de dados visando personalizar as experiências de aprendizagem, favorecer o percurso vaivém da avaliação formativa da aprendizagem e, ainda, a obtenção de resultados.
Este interesse está a incentivar o desenvolvimento de um campo relativamente novo - learning analytics. A meta é construir melhores pedagogias, capacitar os estudantes para se tornarem parte ativa na sua aprendizagem e avaliar os fatores que afetam o seu sucesso educativo.
Para aprendentes, educadores e investigadores, o uso de learning analytics já está a fornecer informações que são cruciais para o progresso dos alunos, em relação a ambientes de aprendizagem, ao acesso e interação com textos online e outros materiais didáticos.
Há investigadores que, em conjunto com empresas, estão a desenvolver learning analytics que permitam definir padrões de aprendizagem que, uma vez utilizados, podem contribuir para melhorar a aprendizagem de estudantes e de instituições educativas.
Com base nesta informação, os professores podem acompanhar o progresso dos alunos no currículo e projetar a melhor forma de satisfazer as suas necessidades individuais.
Nestes novos cenários importa compreender o que é aprendizagem, o papel das tecnologias digitais como mediadoras de artefatos para a aprendizagem, e como projetar ambientes de aprendizagem para um aprendente digitalmente literato.
Ravenscroft (2011) sublinha que não tem sido estudado o papel do diálogo nestes processos, embora o diálogo seja o primeiro veículo para manter as conexões e desenvolver o conhecimento através delas.
Propõe, então, uma atenção especial ao diálogo digital como forma de compreender melhor o conectivismo e projetar o futuro de aprendizagem em rede que envolva as suas potencialidades.
Do leque de princípos do conectivismo destacam-se os seguintes:
i) aprendizagem e conhecimento apoiam-se na diversidade de opiniões;
ii) aprendizagem é um processo de conectar nós especializados ou fontes de informação;
iii) pode residir em dispositivos não-humanos; a capacidade para ver conexões entre campos, ideias e conceitos é fundamental; atualizar conhecimento é a intenção de todas as atividades de aprendizagem conectivistas (SIEMENS, 2005).
Este autor reclama uma abordagem para a aprendizagem assente na interação e conversação, na partilha e participação, privilegiando uma visão onde a aprendizagem é incorporada numa atividade significativa, como por exemplo, na atividade de jogo.
http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/viewFile/1339/433
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