Tolstói pedagogo ? Mas claro......, afinal quem foi ?
Leão (Liev) Tolstói (1828-1910) foi um escritor e educador russo, autor de Guerra e Paz, obra-prima que o tornaria célebre. Profundo pensador social e moral é considerado um dos mais importantes autores da narrativa realista de todos os tempos. Stephan Zweig considerava-o como o “Pedagogo do Universo”, pois não só elaborou o projeto de uma publicação pedagógica, chamada Revista da Escola de Iásnaia Poliana, como também dedicou ao tema educativo mais de 630 trabalhos.
Nasceu na quinta de Iasnaia Poliana, Rússia, no dia 9 de setembro de 1828. Filho de Nicolau Tolstói, de origem ilustre, e da sua esposa a princesa Maria Nicolaievna. Com nove anos ficou órfão sendo então educado por precetores.
Em 1841, muda-se para Kazan e em 1844 ingressa na universidade. Dedica-se aos estudos de línguas orientais e às Ciências Jurídicas, mas insatisfeito com o ensino formal abandona o curso.
Senhor de inúmeros servos, dono de 2.200 hectares de terra, tem sua juventude dividida em contradições. Entusiasma-se com o luxo e a frivolidade da capital, porém preocupa-se com os servos e procura oferecer-lhes melhores condições. Duvida das próprias certezas e sente as contradições dos dous mundos em que vive.
Ao completar 23 anos, entra para o exército, ao mesmo tempo em que publica os capítulos da autobiografia Infância (1852), na revista O Contemporâneo, de São Petersburgo. Um ano depois eclode a Guerra da Crimeia entre russos e turcos.
Por ser de origem nobre, recebe o posto de oficial, sendo designado para luitar em Sebastopol, onde escreve, em 1854, Os Relatos de Sebastopol.
“Dormia no terraço, ao ar livre, e os raios oblíquos do sol matinal me despertavam. Vestia-me às pressas, punha debaixo do braço uma toalha, um romance francês, e ia-me banhar no riacho, à sombra dum bidoeiro que ficava muito perto da casa. Depois, estirava-me e lia, parando às vezes para contemplar o lilás sombrio da superfície do riacho que começava a se agitar ao sopro da brisa da manhã, ou o campo dourado de centeio que ficava na margem oposta”.
Esta deliciosa descrição da juventude do escritor Leão Tolstói está registada nas suas Memórias.
Tolstói volta para São Petersburgo, em 1855, descrente da guerra, após a derrota das tropas russas. A vida na corte o deixa dececionado, administrar suas propriedades não o satisfaz e a vida militar o repugnava. Dedica-se a escrever, o sucesso de Infância era um grande incentivo. Em 1854 escreve Adolescência e em 1856 Juventude, completando assim a trilogia autobiográfica.
Em seguida publica Uma Tormenta de Neve (1856), obras que despertam o interesse do público e da crítica literária. Em 1857, troca a carreira de oficial pelas letras. Inicia uma série de viagens pela Europa, onde observa as novas experiências em matéria de educação. Influenciado desde a adolescência pela obra de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), acredita que a função da educação seria melhorar a moral e moldar o caráter, através da autodisciplina.
Para aplicar suas teorias funda uma escola em Iasnaia Poliana, para educar os camponeses, o que chocou aos círculos intelectuais da Rússia. Tolstói foi o precursor das ideias revolucionárias que conturbariam a Rússia no século seguinte.
Em 1856, abandonada a carreira militar, Tolstói passou a viver em sociedade, ampliando suas relações pessoais. Viajou à Europa, visitando diversos países (Alemanha, França, Suíça, Itália, Bélgica e Inglaterra).
Ao regressar, isolou-se em sua propriedade rural, determinado a dedicar-se à literatura e à escola de Iasnaia Poliana que tinha criado para os filhos dos camponeses da sua quinta. Em 1862 casa-se com Sofia Andreievna, com quem teve 13 filhos, dos quais apenas 10 sobreviveram. Começa a trabalhar na obra que o consagraria Guerra e Paz.
A primeira parte foi publicada em 1865, sob o título de Mil Oitocentos e Cinco. Redige também artigos, contos e uma cartilha para a escola primária, onde escreve, de forma original, as lendas folclóricas russas.
Em 1869, conclui Guerra e Paz. Em 1877 escreve Ana Karenina, um dos melhores romances psicológicos da literatura moderna. Tolstói publicou Uma Confissão (1882), onde descreve sua crescente confusão espiritual.
A Morte de Ivã Ilyitch (1886), Sonata de Kreutzer (1889), Senhor e Servo (1889) e Ressurreição(1899). Escreveu em seu diário: “Tenho uma terrível vontade de deixar-me ir”. Com uma vida pessoal cheia de conflitos, Tolstói assume uma posição anarquista, recusando toda forma de governo e poder. Entra em crise espiritual, questiona a sociedade em que vive, rejeita a autoridade da Igreja Ortodoxa e é excomungado em 1901. Tolstói tornou-se pouco a pouco um cristão evangélico, uma espécie de apóstolo, pregando para os seus. Ao renegar a religião ortodoxa, acabou excomungado pela Igreja.
Suas posições políticas também se radicalizaram, tendendo ao anarquismo. Tolstói criou uma escola alternativa, para a qual chegou a redigir os livros didáticos. Suas convicções cada vez mais exaltadas atraíam a atenção de místicos do mundo inteiro. Ao mesmo tempo, ampliava-se sua fama de grande romancista.
Sua esposa não aceita as ideias do marido sobre a educação dos filhos, nem a dedicação à escola e os conflitos são constantes. A morte sucessiva de três filhos, e de uma tia, abala a vida do escritor.
Começa uma grande transformação em sua vida, afirmando que “A origem do mal é a propriedade”. Repudia a nobreza, veste-se como camponês, anda descalço e serve-se a si próprio.
Divide os móveis da família entre a mulher e os filhos, deixa metade dos direitos autorais para o público. Tolstói tornou-se pouco a pouco um cristão evangélico, uma espécie de apóstolo, pregando para os seus.
Distanciando-se cada vez mais de sua família, Tolstói decidiu entrar para um mosteiro. Planejou a fuga e, no dia 31 de outubro de 1910, finalmente embarcou num comboio, acompanhado apenas da filha mais nova Alexandra e de seu médico. Com a saúde abalada, foi obrigado a descer na cidadezinha de Astapovo, sendo acolhido pelo próprio agente da estação.
O fato tornou-se público e telegramas e visitas começaram a chegar de toda a Rússia e de outras partes da Europa. Tolstói resistiu apenas alguns dias, falecendo pouco depois em consequência de uma pneumonia, o 20 de novembro de 1910 na estação ferroviária de Astapovo, na província de Riaz.
Muitas das suas famosas obras literárias foram levadas ao cinema, e algumas, como Ana Karenina, com catorze versões diferentes, desde o ano 1914 (a primeira) até o 2012 (a última) a cargo de vários realizadores e em diferentes países.
Em 2009, sob o título de A última estação, o britânico Michael Hoffman realizou um filme sobre a vida e obra de Tolstói, que teve grande sucesso, e que tomo como base para o presente depoimento.
Ótimo filme...., recomendo...
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